sábado, 25 de fevereiro de 2012

A Comédia na Comédia


A COMÉDIA NA COMÉDIA
Tradução, adaptação e argumento: Marcus Villa Góis. Manuscrito original de Basilio Locatelli, conservado na Biblioteca Casanatense Roma, Manoscritti 1211 e 1212. Publicado por: TESTAVERDE, Anna Maria. I Canovacci della Comedia dellArte. Torino: Giulio Einaudi, 2007.

Personagens
Pantaleão, ator 1.
Isabela, filha, ator 5.
Arlequim, servo, ator 3.
Covielo, ator 6.
Flamínia, filha, ator 2.
Flávio, depois Curzio, filho de Covielo, ator 7.
Médico, ator 2.
Graziano, ator, ator 4.
Horácio, ator, depois Cataldo, filho de Pantaleão, ator 6.

Coisas: 5 cadeiras, um florete. Barba falsa para Flávio.

Argumento:
                Vivia em uma pequena cidade do interior dois distintos e velhos amigos: Pantaleão e Covielo; todos os dois viúvos. Pantaleão tinha por filhos Isabela e Cataldo, este desaparecido há muitos anos, e Covielo tinha por filhos Curzio e Flamínia. Para satisfazer o desejo do amigo Pantaleão cede a filha à Covielo. Para comemorar as núpcias contratam um grupo de atores para representarem uma comédia, a partir deste momento muitas verdades começam a ser reveladas, muitas máscaras começam a cair.

CENA 1: PANTALEÃO e ARLEQUIM
Pantaleão, vindo de casa com Arlequim, diz querer casar sua filhinha, Isabela, por já estar na idade e porque Covielo a pediu em casamento; bate na porta da casa de Covielo.

CENA 2: COVIELO, PANTALEÃO e ARLEQUIM
Covielo, vindo de casa, ouve como Pantaleão está contente de lhe dar Isabela como esposa, fazem lazzi, entram em acordo pelo dote. Pantaleão manda Arlequim chamar Isabela. Arlequim grita. Nisto

CENA 3: ISABELA, COVIELO, PANTALEÃO e ARLEQUIM
Isabela vem de casa,  compreende, por seu pai, a promessa de se casar com Covielo, ela recusa, fazem lazzi, ao fim, por força de bravatas e ameaças, toca mão a mão com Covielo, Isabela, descontente, entra em casa; Covielo diz que vai ao cartório para fazer as certidões e que esperará Pantaleão, parte pela rua. Pantaleão diz a Arlequim que vá convidar os parentes e que chame os comediantes para alegrar a festa, Arlequim, que fará tudo, parte pela rua. Pantaleão que vai encontrar Covielo, parte pela rua.

CENA 4: FLÁVIO
Flávio vem da rua dizendo ter abandonado os estudos em Salvador pelo amor que tem por Isabela e estar disfarçado por medo de seu pai Covielo, bate na porta de Isabela; nisto

CENA 5: ISABELA e FLÁVIO
Isabela vem de casa, reconhece Curzio, que afirma estar incógnito com barba postiça, tendo mudado o nome para Flávio pelo amor dela e ter abandonado os estudos em Salvador. Isabela se desespera pois Pantaleão, seu pai, a casará com Covielo; Flávio, sofrendo, diz que permaneça com o ânimo bom, que ele vai tentar estragar tudo, parte pela rua, Isabela entra em casa.

CENA 6: PANTALEÃO
Pantaleão vem da rua, diz ter feito as certidões com Covielo e querer arrumar as núpcias. Nisto

CENA 7: ARLEQUIM, GRACIANO e PANTALEÃO
Arlequim entra da rua; diz a Pantaleão ter convidado os parentes e ter trazido o chefe dos comediantes. Mostra-lhe Graciano, Pantaleão lhe pergunta qual é o seu papel, Graciano diz fazer o apaixonado, Pantaleão ri, dizendo: “Olha a cara-de-pau para fazer o apaixonado”, ao fim combinam pela comédia dez escudos, lhe dá o calção, Graciano diz querer chamar os companheiros, sai pela rua. Pantaleão manda Arlequim trazer as cadeiras, diz não ver a hora que comece, todos entram em casa.

CENA 8: COVIELO
Covielo entra da rua, alegre pelas núpcias e festas que quer dar. Diz querer divertir Flamínia, sua filhinha, na festa, bate em casa. Nisto

CENA 9: FLAMÍNIA e COVIELO
Flamínia da janela de casa ouve que Covielo se casará. Ele diz querer casar ela em breve e que venha à festa e à comédia que se fará, ela desce. Covielo bate na casa de Pantaleão. Nisto

CENA 10: PANTALEÃO, ISABELA, ARLEQUIM, FLAMÍNIA e COVIELO
Pantaleão vem de casa junto com Isabela e Arlequim. Pantaleão abraça Covielo seu genro, fazendo gaiatices com Isabela de má-vontade. Arlequim manda que todos se sentem e que os comediantes se aprontem. Nisto

CENA 11: FLÁVIO, PANTALEÃO, ISABELA, ARLEQUIM, FLAMÍNIA e COVIELO
Flávio vem da rua; Arlequim apresenta o forasteiro a todos. Flávio se coloca à parte para ouvir a comédia. Arlequim dá ordens que se deve começar. Nisto

CENA 12: GRACIANO, FLÁVIO, PANTALEÃO, ISABELA, ARLEQUIM, FLAMÍNIA e COVIELO
Graciano, primeiro toca e faz música. Covielo sai da platéia com incontinência urinária. Graciano anuncia o silêncio, que se fará uma comédia ao improviso, entra. Nisto

CENA 13: HORÁCIO, FLÁVIO, PANTALEÃO, ISABELA, ARLEQUIM e FLAMÍNIA    - TEATRO
Horácio vem da rua, narra o amor que tem por Vitoria, filha de Graciano, diz querer pedi-la ao pai como esposa; bate

CENA 14: GRACIANO, HORÁCIO, FLÁVIO, PANTALEÃO, ISABELA, ARLEQUIM e FLAMÍNIA
Graciano vem de casa e ouve tudo de Horácio, fazem o acordo de casamento; Horácio sai, Graciano reclama que podia arrumar alguém mais rico. Nisto, cai no chão uma luva de Isabela.

CENA 15: COVIELO, GRACIANO, FLÁVIO, PANTALEÃO, ISABELA, ARLEQUIM e FLAMÍNIA
Covielo retorna arrumando as calças e vê Flávio correndo para recuperar a luva, beijando a luva e oferecendo-a de volta a Isabela; Covielo gritando empurra a mão de Flávio, intercede dizendo que o forasteiro se afaste. Fazendo rumor, todos murmurando fogem, primeiro Arlequim para esquerda, depois Graciano para a direita, Pantaleão conduz Isabela e Flamínia para casa. Flávio foge e Covielo o segue com a espada em riste.

CENA 16: PANTALEÃO e ARLEQUIM
Pantaleão sai de casa e manda Arlequim levar embora as cadeiras. Enquanto Arlequim arruma, Pantaleão lamenta do inconveniente ocorrido, diz que Isabela está mal pelo susto que tomou e manda Arlequim chamar um médico. Arlequim sai levando as cadeiras. Nisto

CENA 17: PANTALEÃO e COVIELO
Covielo vem pela rua, armado, diz querer vingar-se de Flávio que ele não devia fazer aquilo que fez e querer matá-lo. Pantaleão repreende Covielo dizendo não ter sido grande coisa e por isso não devia sentir-se ultrajado. Pantaleão avisa que Isabela está doente, Covielo desesperado quer ir chamar o médico, os dois partem pela rua.

CENA 18: FLÁVIO e ARLEQUIM
Flavio e Arlequim vêm pela rua, Arlequim conta que Isabela está doente por causa do susto que levou, Flávio lhe promete uma gorjeta se o ajudar e manda chamar Isabela. Arlequim entra na casa de Pantaleão. Nisto

CENA 19: ISABELA e FLÁVIO
Isabela da janela de casa fala do susto que passou, depois falam amorosamente, trocando juras, combinam um encontro para fugir juntos às duas horas da manhã; Isabela entra em casa, Flávio sai para encontrar destino para a fuga; parte pela rua.

CENA 20: HORÁCIO
Horácio vem pela rua, fala português, se queixa de quando atuava na comédia, devia ter falado espanhol, e diz que, quando ele atuou na comédia na casa de Pantaleão, viu uma belíssima jovem que lhe olhava muito e ter-se enamorado dela, diz não saber quem ela seja, vai procurando-a. Nisto

CENA 21:  FLAMÍNIA e HORÁCIO
Flamínia surge na janela, vê Horácio, se cumprimentam juntos, é convidada a descer, ela vêm para baixo. Horácio declara o seu amor, ela aceita-o, e diz que porque o pai não a quer casar, ela quer por conta própria, diz querer satisfazê-lo, mas na casa de uma vizinha. Combinam encontrar-se às duas horas da manhã; Flamínia entra em casa, Horácio alegre, parte pela rua.

CENA 22: MÉDICO
Médico vem pela rua, diz ser o médico mandado por Pantaleão para visitar Isabela, sua filhinha noiva, estando adoentada, bate na casa de Pantaleão. Nisto

CENA 23: ARLEQUIM e MÉDICO
Arlequim na janela entende ser o médico que veio ver a noiva, o faz entrar e todos entram em casa.

CENA 24: PANTALEÃO e COVIELO
Pantaleão vem pela rua e diz ter mandado o médico para ver a esposa, dizem querer saber como esteja, batem na casa de Pantaleão. Nisto

CENA 25: MÉDICO, PANTALEÃO e COVIELO
Médico vem de casa, diz que a doente se curou, não ser nada e que está bem, todos se alegram;  Covielo diz querer guardar a arma, entra em casa, eles ficam. Nisto

CENA 26: GRACIANO, MÉDICO e PANTALEÃO
Graciano vem pela rua, vê Pantaleão, lhe chama à parte e pede o dinheiro da comédia. Pantaleão diz que não terminaram de fazer, Graciano que não importa, que não foi por culpa deles; ao fim, Pantaleão diz que fará pagar agora do seu irmão, por ele não ter dinheiro consigo, lhe mostra o médico, Graciano diz que sim e diz estar contente; Pantaleão diz ao médico, à parte, que aquele homem está mau e que insistiu para que fizesse a gentileza de sentir o seu pulso, faz um sinal a Graciano, o médico diz que sim. Pantaleão diz que este será o pagamento que ele merece, sai pela rua. Médico diz que se aproxime, que quer sentir seu pulso, Graciano não quer, ao fim deixa fazer aquilo que ele quer, Graciano lhe ordena que lhe dê oito escudos que ele ficou de dar, médico diz que a febre o fez delirar, que ela deve ser maligna, que é necessário ainda tirar o sangue, fazendo lazzi, ao fim apertam as mãos e partem pela rua.

CENA 27: HORÁCIO
Horácio vem pela rua, finge noite, diz não saber qual seja a casa de Flamínia, diz ser a hora de encontrar-se, conforme marcaram. Nisto

CENA 28: ISABELA e HORÁCIO
Isabela sai de casa, fingindo noite escura, faz sinal, acreditando que Horácio seja Flávio, e Horácio acreditando que Isabela seja Flamínia, tratam-se de “meu amor”, “minha paz”, “meu tesouro”, se abraçam e partem pela estrada.

CENA 29: FLÁVIO
Flávio vem pela rua, fingindo noite, diz querer levar embora Isabela e mantê-la na casa de um amigo. Nisto

CENA 30: FLAMÍNIA e FLÁVIO
Flamínia sai de casa, fazem sinal, tratam-se de “meu amor”, “minha paz”, “meu tesouro”, ela acredita ser Horácio e ele acredita ser Isabela, sem falar se abraçam, fingindo noite, saem pela rua.

CENA 31: HORÁCIO e ISABELA
Horácio e Isabela vêm pela rua, tendo descoberto não serem amantes, Isabela implora a salvar a sua honra e o amor de Flávio e que, por gentileza, a leve na casa de uma amiga sua por respeito ao seu pai e tente encontrar Flávio; Horácio se lamenta e depois, ao fim, suplicado, se contenta, partem pela rua.

CENA 32: FLÁVIO e FLAMÍNIA
Flávio e Flamínia vêm pela rua, eles descobriram não serem amantes, Flamínia se lastima pensando que fosse o Horácio, Flávio lamenta por Isabela, duvida que não esteja em casa. Nisto

CENA 33: HORÁCIO, FLÁVIO e FLAMÍNIA
Horácio vem pela rua lamentando-se da má sorte de não ter visto Flamínia, a vê, entende tudo o que ocorreu, ao fim descobrem, ele e Flávio, um ter a namorada do outro, gabam-se de nenhum ter prejudicado o amigo em sua honra, dizem querer ir se divertir, partem pela rua.

CENA 34: COVIELO
Covielo sai de casa, fingindo manhã cedo, dizendo não ter dormido toda a noite pensando em Isabela que quer logo tomar por esposa já que não possui qualquer mal. Bate na casa de Pantaleão. Nisto

CENA 35: ARLEQUIM e COVIELO
Arlequim surge na janela, fingindo dormir faz lazzi. Covielo chama por Pantaleão, Arlequim diz que dorme, mas ao fim entra e chama. Nisto

CENA 36: PANTALEÃO e COVIELO
Pantaleão da janela, fingindo levantar-se agora da cama, Covielo diz querer a mulher, que a quer levar sem fazer núpcias nem festas; Pantaleão sai e diz que está muito cansado, que toda aquela noite ouviu passos pela casa, ao fim rogado, chama Isabela. Nisto

CENA 37: ARLEQUIM, PANTALEÃO e COVIELO
Arlequim da janela de casa ouve que chamam Isabela, que chegou o esposo e que a acorde. Arlequim entra e sai várias vezes, fazendo lazzi que dorme, às vezes na janela, às vezes na rua; ao fim diz que Isabela não está em casa, Pantaleão e Covielo se desesperam, entram e saem da casa, um por vez, e não a encontram, duvidam que tenha sido seqüestrada, dizem querer armar-se e procurá-la; Pantaleão e Arlequim entram em sua casa, Covielo na dele.

CENA 38: FLÁVIO e HORÁCIO
Flávio e Horácio dizem ter deixado as amorosas na casa de uma vizinha e querer pedi-las aos seus pais como esposas. E se eles não quiserem dar, querer levá-las de qualquer modo pelo mundo, se escondem vendo vir o pai de Flamínia. Nisto

CENA 39: COVIELO
Covielo vindo de casa, estando desesperado, pois não encontrou Flamínia, sua filhinha, em casa. Bate na casa de Pantaleão. Nisto

CENA 40: PANTALEÃO, ARLEQUIM e COVIELO
Pantaleão e Arlequim saem de casa, armados. Covielo narra que Flamínia também fugiu de casa, resolvem matar quem tenha colocado a mão nelas.

CENA 41: FLÁVIO (CURZIO), PANTALEÃO, ARLEQUIM e COVIELO (HORÁCIO)
Flávio sai do esconderijo com a mão na barba e se aproxima de Covielo. Covielo pergunta onde está Isabela. Flávio diz ter algo importante para revelar. Covielo retira a capa e a máscara e entrega a Flávio para segurar. Horácio surge, implora Flamínia por esposa e veste novamente a máscara. Covielo diz que não por ele ser ator, retira novamente a máscara. Horácio diz que não se ofenda pois ele é um nobre cavalheiro, que Graciano pode testemunhar pois o criou desde pequeno com Francisquinha sua mãe de leite, mas que seu pai verdadeiro se chamava Pantaleão dos Humildes; Pantaleão ouve isso, reconhece Horácio como Cataldo, seu filhinho. Pantaleão narra que o tutor Graciano levou embora Francisquinha e que Francisquinha levou consigo Cataldo por tê-lo amamentado; fazendo alegrias o abraça. Horácio veste a máscara e a capa. Covielo surge contente por ter entendido que Horácio seja filho de Pantaleão e lhe concede por esposa Flamínia; Flávio se ajoelha defronte a Covielo, seu pai, e, tirando do rosto a barba postiça, revela-se Curzio e diz estar disfarçado por ter fugido dos estudos em Salvador pelo amor de Isabela; Covielo o perdoa e Pantaleão lhe concede Isabela sua filha por mulher; fazendo alegrias, sai Flávio (Curzio) e Covielo para chamar as mulheres. Nisto

CENA 42: GRACIANO, PANTALEÃO e ARLEQUIM
Graciano vem pela rua, pede a Pantaleão que o pague pela comédia feita, Pantaleão o pega e lhe revela tudo, de ter levado embora Francisquinha e Cataldo, seu filhinho. Graciano lhe pede perdão e diz que para trabalhar faziam comédias e para não ser reconhecido ele tinha cortado a barba. Pantaleão lhe perdoa. Nisto

CENA 43: HORÁCIO, ISABELA, FLAMÍNIA, FLÁVIO, GRACIANO, PANTALEÃO e ARLEQUIM
Isabela e Flávio de mãos dadas, e Horácio e Flamínia abraçados, desfilam com Pantaleão, Arlequim e Graciano tocando instrumentos pelas ruas, comemorando os casamentos.  Fazendo alegrias entram para fazer as núpcias, todos em casa.

Fim da comédia.

domingo, 12 de fevereiro de 2012

O FEITICEIRO FAJUTO DA QUARTA DE CINZAS. 23 e 24 de Fevereiro/2012. Teatro Gamboa Nova. 20h.

O FEITICEIRO FAJUTO DA QUARTA DE CINZAS
Adaptação de Marcus Villa Góis da tradução de Roberta Barni do original de Flaminio Scala em Il teatro delle favole rappresentative... Ed. Iluminuras, São Paulo, 2003. 1ª Ed.: Pulciani, Veneza, 1611.

Personagens

Pantaleão – ator 1.
Isabela – filha – Poliana
Hortência – criada – ator 5.
Graciano – doutor - ator 4.
Flamínia – filha – ator 2.
Flávio – filho – ator 7.
Arlequim – criado – ator 3.
Francisquinha – criada – ator 2.
Horácio – sozinho e nobre – ator 6.
Médico -  ator 6.


Coisas: Dois trajes de espírito; quatro copos com vinho; uma rosca; roupa de feiticeiro; roupa de Padilha, com o tridente, para Francisquinha. Candeia; remédio; serpentinas de carnaval;

Argumento
    Moravam numa grande cidade dois grandes mercadores, o primeiro chamava-se Pantaleão, que tinha uma só filha, Isabela. E o segundo chamava-se Graciano, que tinha dois filhos, um de nome Flávio e a outra chamada Flamínia.     Deu-se que, um jovem chamado Horácio dotado de nobreza, virtudes e bens encantou-se por Flamínia. Flávio, por sua vez, revelou o seu amor por Isabela, filha de Pantaleão, tão amigo de seu pai. Assim perseverando, com tempo e com conforto, com a ajuda dos criados, ambos os jovens desfrutaram de suas amadas, e para enorme contento engravidaram as mulheres.

Carnaval

CENA 1: PANTALEÃO e HORTÊNCIA
Pantaleão aflige-se com Hortência, sua criada, pela enfermidade de Isabela, sua filha, e por sua barriga estar ficando tão avolumada. Hortência culpa muitas coisas na ilha onde passaram o verão com toda a família, e que seria bom lhe dar um marido, propondo-lhe Flávio. Pantaleão, encolerizado, diz que prefere antes afogá-la; nisto

CENA 2: HORÁCIO, PANTALEÃO e HORTÊNCIA
Horácio endemoninhado, vai discorrendo consigo próprio e à roda de Pantaleão, dizendo: “Sua filha morrerá” e fazendo atos de possuídos, para amedrontá-los; vai-se embora. Pantaleão manda Hortência buscar o médico, e esta vai-se. Pantaleão, sai.

CENA 3: FLÁVIO e ARLEQUIM
Flávio aflige-se com Arlequim pela desconfiança de Pantaleão. Arlequim conta que Horácio mandou que dissesse a Pantaleão que estava possuído, mas que não sabe com que finalidade; nisto

CENA 4: HORTÊNCIA,  FLÁVIO e ARLEQUIM
Hortência diz a Flávio que o médico quer ver a urina de Isabela. Ele suspeita que o médico descubra a gravidez. Flávio diz que gostaria de falar com Isabela. Hortência diz que dará um jeito em tudo e entra para fazê-la urinar. Eles ficam; nisto

CENA 5: ISABELA, FLÁVIO e ARLEQUIM
Isabela pede a proteção de Flávio, estando a gravidez no auge; fazem cena amorosa; Isabela entra em casa; nisto

CENA 6: FLAMÍNIA, FLÁVIO e ARLEQUIM
Flamínia à janela, pede a proteção de Flávio seu irmão, dizendo-lhe como a sua gravidez está ficando cada vez mais perceptível; nisto

CENA 7: GRACIANO, FLAMÍNIA, FLÁVIO e ARLEQUIM
Graciano de dentro, chama a filha, perguntando com quem ela está conversando. Flávio vai embora. Flamínia fica com Arlequim, e, vendo o pai chegar, prontamente desata a cantar, e Arlequim a dançar; nisto

CENA 8: GRACIANO, FLAMÍNIA e ARLEQUIM
Graciano vendo Flamínia dançando e cantando crê que tenha enlouquecido; com belas palavras, manda-a para dentro, depois manda chamar Francisquinha.

CENA 9: FRANCISQUINHA, GRACIANO e ARLEQUIM
Francisquinha em cena, Graciano vai levá-la consigo à Ribanceira para comprar vinho, mandando Arlequim lavar o tonel (para a festa de carnaval no dia seguinte), saem. Arlequim reclama e sai.

CENA 10: HORÁCIO e FLÁVIO
Horácio diz a Flávio que fingiu estar possuído para Pantaleão e tudo o que lhe disse. Flávio conta-lhe que Hortência inventou um modo através do qual eles poderão entrar nas casas de suas mulheres; e que é preciso avisá-las, agora que está anoitecendo; nisto

Noite

CENA 11: FLAMÍNIA, FLÁVIO e HORÁCIO
Flamínia à janela, faz cena amorosa com Horácio; nisto

CENA 12: ISABELA, FLAMÍNIA, FLÁVIO e HORÁCIO
Isabela, à janela, diz a Flávio que as dores da gravidez estão atormentando-a; Flamínia diz o mesmo. Flávio avisa as mulheres que Hortência arrumou um modo para possibilitar o encontro deles e que, seja o que for que elas virem, não devem temer porque tudo será para que possam estar de novo juntos. Mulheres alegres, recolhem-se; eles vão-se.

CENA 13: PANTALEÃO e HORTÊNCIA
Pantaleão com candeia, diz que ficou sabendo que o médico encomendou um remédio para amanhã; entra em casa. Hortência diz que de dia quer ir buscar o remédio, somente para animar a história e Pantaleão, sai.

Dia

CENA 14: GRACIANO e FRANCISQUINHA
Graciano diz que dormiram na casa do irmão, dizendo que mandaram o vinho e uma rosca, e diz que quer provar o vinho; batem na porta.

CENA 15: ARLEQUIM, GRACIANO e FRANCISQUINHA
Arlequim responde, depois fora recebe o patrão, dizendo que o vinho chegou. Graciano dá-lhe dinheiro para comprar meio quilo de queijo para o desjejum e diz que quer experimentar o vinho; entra com Francisquinha. Arlequim fica.

CENA 16: HORTÊNCIA e ARLEQUIM
Hortência com remédio, faz Arlequim acreditar ser um vinho. Arlequim bebe um pouco, fica enjoado, e vai-se. Hortência ri; nisto

CENA 17: PANTALEÃO e HORTÊNCIA
Pantaleão desesperado por sua filha Isabela, vê Hortência com o frasco do remédio, manda-a em casa para dá-lo a Isabela. Ela sai.

CENA 18: MÉDICO e PANTALEÃO
Médico chega; Pantaleão afaga-o, rogando-lhe que cure sua filha; nisto

CENA 19: HORTÊNCIA, MÉDICO e PANTALEÃO
Hortência em cena; Pantaleão ordena-lhe que leve o médico até Isabela, para que possa examinar melhor a sua doença, e sai. Médico manda chamar Isabela; Hortência  entra em casa, depois volta com Isabela.

CENA 20: ISABELA, HORTÊNCIA, GRACIANO e MÉDICO
Isabela é examinada pelo médico; Graciano apartado ouve tudo. Por fim Isabela confessa estar grávida de Flávio; Médico consola-a, manda-a para casa. Isabela sai com Hortência para um lado, o médico para o outro.

CENA 21: GRACIANO
Graciano diz que Flávio seu filho é um reles, e que por isso é que ele andava tão estranho; nisto

CENA 22: FLÁVIO e GRACIANO
Flávio chega; Graciano vai gracejando com Flávio sobre o amor e sobre o engravidar das mulheres. Flávio imediatamente finge um mau súbito, sai. Graciano fica.

CENA 23: PANTALEÃO e GRACIANO
Pantaleão chega. Graciano diz que compreendeu qual é a doença de Isabela e, para saná-la, pede-a em casamento por Flávio, seu filho. Pantaleão recusa. Graciano diz que se a quer curada, que a dê para Flávio. Pantaleão, encolerizado, sai para ir falar com o médico. Graciano fica.

CENA 24: ARLEQUIM e GRACIANO
Arlequim entra em cena com o queijo, entrega-o a Graciano, vomitando à sua volta por ter bebido o remédio. Graciano diz que entre em casa para experimentar do outro vinho, sai. Arlequim fica, vomitando; nisto

CENA 25: FRANCISQUINHA e ARLEQUIM
Francisquinha chama-o para provar o vinho. Ele vomita, e diz que seu corpo dói. Francisquinha entra; Arlequim se demora.

CENA 26: HORTÊNCIA e ARLEQUIM
Hortência diz que o médico é homem de bem. Arlequim queixa-se dele, enjoado e esforçando-se para por tudo para fora; nisto

CENA 27: GRACIANO, HORTÊNCIA e ARLEQUIM
Graciano, de dentro, chama Arlequim, perguntando-lhe quem está com ele. Ele diz: “Hortência!”. Graciano chama-a, que vá beber e festejar. Hortência entra, Arlequim fica; nisto

CENA 28: GRACIANO e ARLEQUIM
Graciano, comendo, sai para chamar Arlequim; convida-o a comer em casa; Arlequim, vomitando, vai atrás.

CENA 29: PANTALEÃO e MÉDICO
Pantaleão pergunta a opinião do médico sobre a doença de sua filha. Médico diz a Pantaleão que case sua filha com quem ela quiser, e que se não o fizer, em breve tempo terá dor e desonra, e que os homens sábios sabem tomar as próprias decisões, e sai. Pantaleão fica pensativo quanto às palavras sobre a honra; lembra-se do que Graciano lhe disse, ouve cantos e brindes na casa dele; bate.

CENA 30: GRACIANO, HORTÊNCIA, FRANCISQUINHA e PANTALEÃO
Comendo e bebendo e bêbados como gambás. Pantaleão repreende Graciano, que cai no chão bêbado, depois de muitos atos ébrios; e assim, um depois dos outros, todos caem no chão. Pantaleão espanta-se; nisto

CENA 31: ARLEQUIM, GRACIANO, HORTÊNCIA, FRANCISQUINHA e PANTALEÃO
Arlequim leva-os todos, um a um, dentro de casa, em vários modos ridículos; por fim volta, quer pegar Pantaleão, que foge pela rua. Arlequim entra casa.

CENA 32: FLÁVIO E HORÁCIO
Flávio diz a Horácio estar desconfiado de que o pai saiba alguma coisa sobre o seu amor, devido às palavras que lhe disse antes; nisto

CENA 33: HORTÊNCIA, FLÁVIO e HORÁCIO
Hortência meia entorpecida pela bebedeira; os amantes afligem-se com ela, porque ela está esticando demais o assunto. Hortência que deixem com ela e chama Arlequim;

CENA 34: ARLEQUIM, HORTÊNCIA, FLÁVIO e HORÁCIO
Arlequim surge. Hortência manda Arlequim ir nas casas avisar às mulheres que logo estarão contentes; Arlequim sai. Hortência manda-os se disfarçarem de espíritos, com aquele amigo deles que faz máscaras e fantasias. Eles saem, Hortência fica.

CENA 35: PANTALEÃO e HORTÊNCIA
Pantaleão ralha com Hortência porque fica se embebedando em vez de cuidar da casa. Hortência culpa Graciano, depois lhe diz que encontrou um sujeito que irá curar a sua filha; nisto

CENA 36: GRACIANO, PANTALEÃO e HORTÊNCIA
Graciano chega, Pantaleão repreende-o. Graciano desculpa-se, dizendo que é Carnaval. Hortência diz mais uma vez que encontrou um sujeito (um feiticeiro) que irá curar as duas filhas deles. Graciano pede pela sua, mas pela de Pantaleão desata a rir, dizendo que ela nunca vai sarar, se não conseguir se casar com Flávio, seu filho. Hortência manda que a esperem atrás do cemitério, e que não digam nada sobre o feiticeiro, pois ele não quer ficar conhecido. Eles saem, Hortência fica em cena.

CENA 37: ARLEQUIM e HORTÊNCIA
Arlequim chega; Hortência diz que quer tirar do aperto as suas patroas e burlar dos velhos. Manda-o se disfarçar de feiticeiro, e que, na volta, lhe dirá o que tem de fazer, avisando que, quando estiver diante de Pantaleão, deve fingir que está esconjurando os espíritos. Arlequim sai. Hortência bate para avisar as namoradas.

CENA 38: ISABELA, FLAMÍNIA e HORTÊNCIA
Flamínia à janela e Isabela à janela. Hortência avisa as namoradas que não tenham medo do que verão, porque tudo será encenação, e que depois fará elas sentirem doçura; namoradas, alegres, retiram-se. Hortência vai encontrar os amantes, sai.

CENA 39: ARLEQUIM
Arlequim, carregando a roupa de Padilha e o tridente, diz que pensou numa esperteza em dobro; chama Francisquinha.

CENA 40: FRANCISQUINHA e ARLEQUIM
Francisquinha entra em cena, recebe as coisas, e a ordem em seu ouvido, apontando o pórtico no alto da casa. Ela entra, ele vai se disfarçar, sai.

Noite

CENA 41: PANTALEÃO e GRACIANO
Pantaleão diz a Graciano que quer arrumar marido para a filha, assim que ela tiver sarado, negando-se a dá-la para Flávio que é um rebelde; mas diz que, se Graciano quiser lhe dar Flamínia em casamento, quando estiver curada, ele então concordará em dar Isabela para Flávio, seu filho. Graciano concorda; nisto

CENA 42: HORTÊNCIA, PANTALEÃO e GRACIANO
Hortência completamente esbaforida, diz ter perdido de vista o feiticeiro; nisto

CENA 43: ARLEQUIM, HORTÊNCIA, PANTALEÃO e GRACIANO
Arlequim vestido de feiticeiro, esconjurando os espíritos, fala com os velhos, formando dois círculos, um de um lado da cena e o outro do outro lado, dentro dos quais manda entrar Pantaleão e Graciano, ordenando que eles, por mais que vejam e ouçam, não se mexam; nisto Arlequim esconjura, chama os espíritos.

CENA 44: FLÁVIO, HORÁCIO, ARLEQUIM, HORTÊNCIA, PANTALEÃO e GRACIANO
Flávio e Horácio vestidos de espírito, girando em volta dos círculos, assustando os velhos e Hortência. Depois cada um deles entra na casa da própria mulher. Os velhos se espantam, com gestos. Arlequim, olhando o céu, chama Padilha, a Rainha das Pombas-Giras, que venha acima da casa.

CENA 45: FRANCISQUINHA, ARLEQUIM, HORTÊNCIA, PANTALEÃO e GRACIANO
Francisquinha vestida como Padilha; Feiticeiro pergunta-lhe a vontade dos deuses quanto a casar as filhas dos velhos. Francisquinha diz que os deuses querem que Isabela seja de Flávio e Flamínia de Horácio, e que, os pais não concordando, aqueles espíritos que apareceram terão de levá-los aos infernos. Velhos concordam; Francisquinha sai; nisto e imediatamente

CENA 46: ISABELA, ARLEQUIM, HORTÊNCIA, PANTALEÃO e GRACIANO
Isabela sai dizendo: “Senhor meu pai, eu estou curada, e não quero outro marido se não aquele que está em casa”. Nisto e imediatamente

CENA 47: FLAMÍNIA, ISABELA, ARLEQUIM, HORTÊNCIA, PANTALEÃO e GRACIANO
Flamínia, de casa, diz o mesmo. Velhos dizem que não querem se aparentar com diabos (e saem dos círculos). Feiticeiro: que quer que eles conheçam o seu valor; esconjura novamente. Os velhos voltam pros círculos

CENA 48: FLÁVIO, FLAMÍNIA, ISABELA, ARLEQUIM, HORTÊNCIA, PANTALEÃO e GRACIANO
Flávio entra em cena em suas feições.

CENA 49: HORÁCIO, FLÁVIO, FLAMÍNIA, ISABELA, ARLEQUIM, HORTÊNCIA, PANTALEÃO e GRACIANO
Horácio o mesmo. Arlequim os faz casar com as jovens, e eles querem premiá-lo. Arlequim diz não querer outro prêmio, senão Francisquinha; de acordo, chamam-na. Flamínia sai para buscar Francisquinha.

CENA 50: FRANCISQUINHA, HORÁCIO, FLÁVIO, ISABELA, ARLEQUIM, HORTÊNCIA, PANTALEÃO e GRACIANO
Francisquinha banca a temerosa, depois concorda. Arlequim manda perdoar algumas espertezas a uma certa Hortência. Velhos concordam; ele finge esconjurar, depois arranca a barba postiça do rosto, revela-se; nisto

CENA 51: HORTÊNCIA, FRANCISQUINHA, HORÁCIO, FLÁVIO, FLAMÍNIA, ISABELA, ARLEQUIM, PANTALEÃO e GRACIANO
Hortência confessa todas as espertezas que aprontou para contentar os jovens amantes e para salvaguardar a honra de suas casas; todos louvam-na.

E aqui termina a comédia.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

O PEDANTE - 09 e 10/02/12 - Teatro Gamboa Nova- 20h

O PEDANTE
Adaptação de Marcus Villa Góis da tradução de Roberta Barni do original de Flaminio Scala em Il Teatro delle favole rappresentative... Ed. Iluminuras, São Paulo, 2003. 1ª Ed.: Pulciani, Veneza, 1611.

Personagens

Pantaleão, ator 1
Isabela, sua esposa, ator 5
Horácio, seu filho, ator 7
Arlequim, seu criado, ator 3
Flamínia, ator 2
Flávio, Pedante, professor de Horácio, ator 6
Graciano, ator 4


COISAS: Lenços, anel, disfarce de carregador, porrete amansa cobra, uma gamela, dois facões, duas roupas de açougueiro.

Argumento
    Vivia em sua pátria de Veneza um mercador riquíssimo, Pantaleão dos Humildes era o seu nome. Ele tinha por esposa uma belíssima jovem, que atendia pelo nome de Isabela, e dela teve um filho, chamado Horácio. Para criá-lo com aqueles hábitos honrados que convém a um jovem de semelhante berço, sob os cuidados e a disciplina de um Mestre Flávio Pedante o mantinham. E pois que o mencionado Pantaleão era homem que, de boa vontade, à crápula e as meretrizes se dava, veio mais e mais vezes a discutir com sua mulher, e mais e mais vezes o referido Pedante fez com que ela se reconciliasse e apaziguasse com o marido.
    Deu-se um dia (como amiúde acontece) que o bom Pedante sentiu vontade de conhecer o sabor da mulher do citado Pantaleão, e, aguardando a oportunidade de nova discórdia e nova rixa entre mulher e marido, revelou-se apaixonado por ela, pedindo-lhe, com palavras eficazes que o satisfizesse. A mulher, que estimava muito a sua honra, depois de prometer, pôs o marido a par de tudo. Ao Pedante então, e de comum acordo, urdiram um belíssimo engano e um castigo, como exemplo para os outros Pedantes, como no decorrer da fábula ficaremos sabendo. 

Veneza.

CENA 1: HORÁCIO, PANTALEÃO e FLÁVIO
Horácio repreende o pai por trair a sua mãe Isabela. Pantaleão se justifica sendo macho e manda o filho espelhar-se. Brigam. Ao ouvir a confusão Flávio chega e aparta a briga com palavras agradáveis, pois ele foi o mestre de Horácio. Flávio leva Pantaleão para casa. Horácio, sozinho, difama Flávio e o pai.

CENA 2: ISABELA, ARLEQUIM e HORÁCIO
Isabela entra dando pauladas em Arlequim e o repreende por roubar o vinho da adega. Horácio defende Arlequim e repreende a mãe. Isabela irrita-se com Horácio e diz que ele é igual ao pai; sai. Horácio sai atrás desolado. Arlequim diz que vai contar tudo a Pantaleão e sai.

CENA 3: GRACIANO
Graciano diz que está indo de Nápoles a Milão, mas que parou em Veneza devido às maravilhas da cidade.

CENA 4: ISABELA, GRACIANO e ARLEQUIM
Isabela à janela, vê Graciano e deixa o seu lenço cair.  Graciano pega-o. Isabela sai de casa e vem pro palco. Graciano quer lhe devolver o lenço. Isabela nega querer o lenço e oferece outros. Graciano oferece um anel. Isabela aceita o anel. Graciano pergunta se ela é casada. Ela, suspirando, responde que sim. Nisto: Arlequim chega. Isabela percebe a presença de Arlequim e vai para dentro.

CENA 5: GRACIANO e ARLEQUIM
Arlequim pergunta quem é o forasteiro. Graciano se apresenta enquanto Doutor. Arlequim diz que ouviu o suspiro de Isabela e viu o anel dado e que aquela é sua esposa. Graciano treme, disfarça e oferece dinheiro e luxo pra conseguir outra mulher. Arlequim concorda e apertam as mãos. Graciano sai pela rua.

CENA 6: ARLEQUIM e ISABELA
Arlequim quer contar o namoro de Isabela com Graciano a Pantaleão para se vingar das pauladas. Isabela entra imitando Arlequim e dizendo que ouviu toda a combinação e viu o aperto de mão, diz que quem vai contar tudo a Pantaleão é ela. Saem os dois, ela batendo nele e chamando-o de cafetão.

CENA 7: HORÁCIO e FLAMÍNIA
Flamínia à janela elogia a qualidade do dia. Horácio entra reclamando da mãe que o comparou ao pai. Se vêem, fazem cena de amor recíproco e saem.

CENA 8: PANTALEÃO e ARLEQUIM
Pantaleão manda Arlequim arrumar a casa. Arlequim concorda, mas que antes deve contar que Isabela presenteou Graciano com um lenço e aceitou dele um anel. Pantaleão admira-se, pois nunca viu um ato desonesto de sua mulher. Arlequim fala das pauladas que recebeu de Isabela.

CENA 9: PEDANTE,  PANTALEÃO e ARLEQUIM
Pedante chega. Pantaleão cumprimenta-o, fala o que Arlequim contou de Isabela e pede sua ajuda para que descubra a verdade. Pedante diz que Arlequim jamais deveria ter dito aquilo e que deixe por conta dele que vai tratar de descobrir a verdade. Dá pauladas em Arlequim que sai.

CENA 10: HORÁCIO, PANTALEÃO e PEDANTE
Horácio cumprimenta o Pedante. Pedante pergunta dos estudos de Horácio. Horácio diz que não vai bem nos estudos. Pedante culpa Pantaleão e o manda ajudar Horácio. Pantaleão sai com Horácio.

CENA 11: PEDANTE, ISABELA e ARLEQUIM (que observa escondido)
Pedante, só, discorre sobre seus planos e seus vícios. Bate à casa de Isabela chorando. Isabela cumprimenta o Pedante e pergunta o motivo do choro. Ele conta da calunia do anel recebido de Graciano. Ela confessa ter cometido a falta por culpa de Pantaleão que cuida de outras mulheres e vive viajando. Ele diz que se ela quiser se aliviar de alguma vontade que use pessoas de casa e não recorra aos forasteiros. Ela finge não ter entendido, diz que vai se reconciliar com o marido e sai. O Pedante diz que percebeu que realmente Isabela vai satisfazê-lo e sai.

CENA 12: ARLEQUIM e FLAMÍNIA
Arlequim sai do esconderijo e  comenta o caráter do Pedante, diz que conhecendo a patroa há anos, sabe que ela vai satisfazê-lo. Flamínia pergunta onde está Horácio, que não o vê há muito tempo naquele lindo dia.

CENA 13: GRACIANO, ARLEQUIM e FLAMÍNIA,
Graciano pergunta sobre a esposa de Arlequim e sobre o combinado de arrumar mulheres. Arlequim pergunta do dinheiro e do luxo. Graciano paga e pergunta da moça na janela. Arlequim aponta Flamínia, diz o nome dela, que é mulher fácil e que irá entreter os outros dentro de casa para que os dois possam conversar à vontade.

CENA 14: HORÁCIO, GRACIANO, FLAMÍNIA  e ARLEQUIM
Horácio entra, vê os dois conversando e se esconde. Graciano pergunta o nome da moça.  Flamínia responde, ele elogia a beleza de Flamínia. Ela agradece elogio e sai sem se despedir. Graciano pergunta se Flamínia é casada. Arlequim, que se colocou na sacada imitando a voz de Flamínia responde que é namorada, mas que aquilo não é um empecilho. Paqueram e Arlequim manda Graciano voltar disfarçado de carregador. Graciano, animado, concorda e sai.

CENA 15: HORÁCIO E ARLEQUIM
Horácio apresenta-se desesperado por Flamínia tê-lo traído. Arlequim esclarece que era ele imitando a voz e manda ele não se preocupar. Saem com Arlequim contando de Isabela e Flávio.

CENA 16: PANTALEÃO e FLÁVIO
Pantaleão procura Flávio. Pedante chega. Pantaleão pergunta se ele descobriu algo de Isabela. Flávio diz que Isabela é uma santa e diz pra ele fazer as pazes com ela. Pantaleão chama Isabela.

CENA 17: PANTALEÃO, FLÁVIO E ISABELA
Isabela entra. Pantaleão pede desculpa e pede para fazer as pazes. Fazem as pazes. Flávio, Pedante, faz sinais a Isabela sem que Pantaleão veja. Saem os três.

CENA 18: ARLEQUIM, HORÁCIO, depois FLAMÍNIA
Arlequim entra em cena com Horácio concluindo o relato sobre Isabela e Flávio. Horácio espanta-se com o que Arlequim lhe relatou sobre sua mãe. Flamínia aparece na sacada quando ouve a voz de Horácio. Arlequim dá as instruções do plano para pegar o Graciano: manda Flamínia se fazer de gentil quando ele chegar disfarçado de carregador e Horácio se esconder. Horácio se esconde e, apartado, ouve tudo. Arlequim também se esconde e, apartado, ouve tudo. Flamínia pega o “amansa cobra”, mostra-o ao público e o esconde ao ver surgir Graciano disfarçado.

CENA 19: GRACIANO, FLAMÍNIA, HORÁCIO e ARLEQUIM
Graciano apresenta-se como carregador e diz ter uma encomenda para dona Flamínia, confiante de já tê-la ganho. Flamínia mostra-se gentil, responde aos intentos do Graciano, mas mostra para o público o pau que desferirá sobre o Graciano. Chama Graciano para dentro. Graciano contente vai entrar na casa, mas, antes disso, ela sai e o espanca. Horácio e Arlequim ajudam Flamínia a espancar Graciano. Graciano deixa a cena na base da pancada. 

CENA 20: ARLEQUIM,  HORÁCIO e FLAMÍNIA
Arlequim comenta o sucesso do seu plano. Flamínia elogia Horácio, pela sua bravura. Horácio elogia Flamínia, pela sua inteligência. Arlequim, afastado, assobia música de amor. Flamínia e Horácio tocam as mãos em sinal de matrimônio, saem. Arlequim comenta que com o Graciano está resolvido, encolerizado, diz que ainda falta pegar o Pedante, sai.

CENA 21: PANTALEÃO e ISABELA.
Pantaleão abençoa o Pedante e atribui a ele o sucesso da reconciliação com sua esposa. Isabela concorda que a reconciliação fez bem pra eles, mas que o Pedante lhe ofereceu ajuda à suas necessidades venéreas, enquanto ela estava vulnerável. Pantaleão espanta-se, pois sempre o considerou um homem honesto, e solicita-lhe uma prova do que diz.
Isabela diz a Pantaleão que encontre o Pedante e diga que não dormirá em casa na noite seguinte, pois irá viajar a negócios. Pantaleão concorda. Isabela sai.

CENA 22: FLÁVIO e PANTALEÃO
Flávio, Pedante chega usando seus volteios de belas palavras e adulando Pantaleão. Pantaleão pede a Flávio que este fique em sua casa e cuide das coisas em sua ausência, pois viajará esta noite a negócios. Flávio aceita o pedido, enfatizando sua destreza em governar famílias, citando sua experiência nesta tarefa. Finaliza desejando que Pantaleão siga na santa paz e que deixe o resto com ele, saindo cheio de cerimônias.

CENA 23: PANTALEÃO e ARLEQUIM
Pantaleão chama Arlequim. Arlequim entra em cena. Pantaleão diz que precisa fazer muito esforço para crer que semelhante homem, um homem como Flávio, se trate de um reles, mas pede que ele fique de guarda. Sai.

CENA 24: FLÁVIO e ARLEQUIM
Flávio chega. Arlequim ao ver o Pedante chegando, se esconde e ouve tudo apartado. Flávio comenta com o público que é chegada a ocasião dele desfrutar a vontade de Isabela e que percebeu nela um desejo mútuo, ainda que a mesma não tenha verbalizado nada. Bate à porta de Isabela.

CENA 25: ISABELA, FLÁVIO e ARLEQUIM
Isabela vai à sacada e encontrando o pedante chorando, pergunta-lhe o que aconteceu.
Flávio diz morrer de amores por ela e sentir que se ela não o corresponder ele certamente morrerá. Complementa que a ocasião não poderia ser melhor já que Pantaleão não estará em casa esta noite. Isabela, para apanhá-lo, diz que espere por ela em seu quarto, despido, e que apenas irá se encontrar com Flamínia para avisar-lhe que esta noite não venha à sua casa, já que é seu costume dormir com ela na ausência de Pantaleão. Flávio, alegre, entra em casa para se despir. Arlequim se mostra insinuando coisas a Isabela. Isabela diz que o plano deu certo e manda Arlequim chamar Horácio e Pantaleão, pois o Pedante está trancado no quarto nu.

CENA 26: ARLEQUIM, HORÁCIO, PANTALEÃO, ISABELA depois.
Arlequim chama Horácio e atrapalhadamente lhe relata que o Pedante está trancado nu no quarto de sua mãe. Em seguida chama Pantaleão e faz o mesmo, enfatizando que a emboscada funcionou. Isabela aparece rindo e diz que o Pedante está à sua espera e pergunta a todos qual o melhor castigo para lhe aplicar. Horácio sugere pauladas. Pantaleão: Chicotadas. Arlequim diz que tanto melhor se o mal fosse cortado pela raiz e sugere que ele seja capado. Chama Horácio para ambos providenciarem os instrumentos do castigo. Saem

CENA 27: ISABELA, FLÁVIO, PANTALEÃO depois ARLEQUIM, HORÁCIO, FLAMÍNIA e depois GRACIANO
Isabela abre a porta do quarto revelando o Pedante nu e afoito para o amor. Pantaleão espanta-se. Flávio tenta se explicar sem se culpar. Horácio, Arlequim e Flamínia chegam com instrumentos. Flávio com medo assume toda a culpa e inocenta Isabela. Graciano chega e pergunta o que vão fazer com ele. Todos: respondem com gestos que o vão castrar. Graciano pede calma e sugere uma surra. Todos: discordam e discutem com o Graciano. Flávio aproveita  a discussão e escapa. Graciano avisa a todos que ele está escapando. Todos correm atrás do Pedante. Graciano canta: “Esta história de um pedante, por todos vista e ouvida. Se verdadeira ou se mentira, Depende de quem acredita. / Mas que sirva de lição, Essa história contada, Porque toda grande pretensão, Quase sempre, termina em nada”.

Assim termina a comédia

Cenas a serem ensaiadas
Pedanteria do Graciano
Cena de amor recíproco
Elogio a vilania do Pedante
Cena de espancamento
Elogio ao amor: Graciano, Horácio e Flamínia
Adulação a todos do Pedante
Música de Graciano.