terça-feira, 22 de março de 2011

Os Dois Parecidos

OS DOIS PARECIDOS

Tradução, adaptação e argumento: Marcus Villa Góis. Manuscrito original de Basilio Locatelli, conservado na Biblioteca Casanatense Roma, Manoscritti 1211 e 1212. Publicado por: TESTAVERDE, Anna Maria. I Canovacci della Comedia dellArte. Torino: Giulio Einaudi, 2007.



Personagens:

Pantaleão. Ator 1.

Isabela, filha. Ator 5.

Horácio, Marido  Ator 6. (Guarda chuva e cabelos arrepiados, corpo curvado).

Arlequim, seu servo. Ator 3.

Covielo, irmão parecido Ator 6. (Espada e chapéu, corpo reto).

Capitão, seu amigo. Ator 7.

Flamínia, prostituta. Ator 2.

Graciano. Ator 4.

Hortência, esposa. Ator 5.

Médico. Ator 7.



(Os personagens do Covielo e de Horácio devem ser feitos pelo mesmo ator. O albergue é uma estrutura central com duas entradas.)



Coisas:  duas roupas parecidas e barbas, vestido, anéis, colar, símbolo do albergue, uma mala, copos e vinho. (Guarda chuva, chapéu e espada.)



Argumento

                Há muitos anos atrás, morava em Bolonha um grande e bondoso Capitão chamado Francesco Andreini e sua esposa, poetisa e atriz, Isabela Andreini. Eles tiveram dois filhos gêmeos, o primeiro chamava-se Horácio e o segundo chamava-se Covielo. Com esses filhos ainda pequenos e junto a outros atores, o casal criou uma companhia de Commedia dell’Arte e passaram a viajar por toda a Europa apresentando seus espetáculos. Até que um dia, esta companhia, quando estava a caminho da França, foi seqüestrada por protestantes. Toda a companhia foi morta porque aqueles religiosos não suportavam a arte dramática. Sobraram somente os dois irmãos que foram mandados um para Fano, na Itália, o Horácio, e o outro acabou parando somente na Espanha, o Covielo, onde encontrou uma família que o criasse. Muitos anos se passaram até que os fatos aconteçam como a distinta platéia poderá perceber.



A cena se passa em Fano.



CENA 1: HORÁCIO e ARLEQUIM

Horácio vindo de casa; diz estar enamorado de Flamínia, cortesã, e ter-lhe prometido um vestido, um colar e dois anéis e não ter dinheiro, nem ter os presentes para mandar. Diz a Arlequim que encontre um meio qualquer para tirar as coisas da mão de Isabela, sua esposa. Arlequim tenta dissuadi-lo e deixar pra lá a cortesã, ao fim, pela insistência de Horácio, diz ter encontrado um meio: “certos atores fazem uma comédia belíssima e Isabela dirá que quer ir, então você diga que prometeu aos atores um vestido, colar e anéis”. Horácio diz: “Se ela quiser ir digo que prometi”, fazem gag do sim e do não e batem para chamar Isabela. Nisto.



CENA 2: ISABELA, HORÁCIO e ARLEQUIM

Isabela de casa; entende tudo, ela recusa e não quer  ir à comédia por não querer dar o vestido, no fim, pela insistência de Horácio, lhe dá tudo, quanto antes levar, melhor.  Fazem gag, Isabela entra em casa, Horácio e Arlequim alegres batem na casa de Flamínia. Nisto.



CENA 3: FLAMÍNIA, HORÁCIO e ARLEQUIM

Flamínia de casa; recebe de Horácio o vestido, o colar e anéis e agradece com elogios; Flamínia o convida a almoçar com ela, Horácio promete ir. Flamínia entra em casa, Horácio e Arlequim partem pela rua.



CENA 3: PANTALEÃO e ISABELA

Pantaleão, vindo da rua, diz estar vindo de sua casa por causa de uma carta que lhe mandou Isabela, sua filhinha. Elogia a casa e bate para entender o que sua filhinha quer. Nisto

Isabela: de casa, entende que Pantaleão recebeu a carta e que veio de sua casa para entender o que ela precisa. Ele espanta-se por ela ter deixado Horácio, seu genro. Isabela fala mal do marido, que ele desperdiça  as coisas, que freqüenta prostitutas e albergues; Pantaleão espanta-se e diz que dará um jeito; Isabela entra em casa. Pantaleão diz que quer encontrar Horácio, parte pela rua.



CENA 4: COVIELO e CAPITÃO

Covielo, vindo da rua, diz estar vindo de viagem da Espanha, que foi desde pequeno, e ter deixado um irmão gêmeo em Bolonha, sua cidade natal; fazem uma gag; ao fim, dizem querer se hospedar, batem. Nisto.



CENA 5: GRACIANO, COVIELO e CAPITÃO

Graciano, vindo do albergue, faz gag com os forasteiros falando da qualidade dos vinhos e do seu albergue, chama Hortência.



CENA 6: HORTÊNCIA, GRACIANO, COVIELO e CAPITÃO

Hortência, vindo do albergue,  acaricia os forasteiros, pega a mala, fazendo gag com Capitão; todos entram no albergue; Covielo fica fora dizendo querer dar uma volta pela cidade, para ver como é belo o vilarejo e as mulheres da cidade. Nisto.



CENA 7: FLAMÍNIA e COVIELO

Flamínia, de casa, diz que espera Horácio para almoçar com ela, vê o Covielo, pensa que é Horácio, o convida a almoçar, pois já está na mesa; Covielo maravilhado por não conhecer a mulher agradece a cortesia, no fim, já chateado pela insistência de Flamínia, aceita o convite e entram em casa.



CENA 8: GRACIANO, HORTÊNCIA e CAPITÃO

Graciano e Hortência, vindos do albergue, gritam com Capitão por ele ter posto uma dúzia de velas nos buracos e por querer burlar Hortência, sua mulher; o espancam, Capitão corre pela estrada. Hortência e Graciano entram em casa.



CENA 9: COVIELO e FLAMÍNIA

Covielo, vindo de casa, se despede fazendo elogios e agradecendo a cortesia recebida, Flamínia lhe dá o vestido, o colar e o anel para que ele guarde. Covielo pega tudo dizendo que a contentará, Flamínia entra em casa; Covielo maravilhando-se de tanta cortesia, diz que não a conhece, bate no albergue. Nisto.



CENA 10: GRACIANO, COVIELO e PANTALEÃO

Graciano vem do albergue, recebe as coisas do Covielo, que as guarde, Graciano faz uma gag e entra. Covielo fica, diz querer andar pela cidade. Nisto.

Pantaleão: da rua, diz ter procurado Horácio e não ter encontrado, vê o Covielo, pensa ser Horácio, grita do seu mau viver e do seu comportamento com Isabela; Covielo insulta chamando-o de gigolô e de mentiroso e parte pela rua. Pantaleão  se assusta por ele ter se tornado tão insolente. Nisto.



CENA 11: HORÁCIO e PANTALEÃO

Horácio, da rua, vê Pantaleão, o abraça, faz carícias, alegra-se da sua volta e agradece as advertências recebidas; Pantaleão se maravilha como pode ter mudado tanto tão rápido, Pantaleão recomenda cuidados a Isabela; ele diz querer-lhe bem e ser-lhe cara, Horácio sai pela rua. Pantaleão espanta-se da diferença que lhe tratou Horácio da primeira vez tão bestialmente e da segunda tão humanamente. Nisto



CENA 12: COVIELO e PANTALEÃO

Covielo, da rua, com raiva porque todos brincam com ele. Pantaleão o persuade a tomar conta de sua mulher e, da casa, Covielo, com raiva, lhe diz vilanias e que não tem mulher, mas que ele é um corno, sai pela rua; Pantaleão assustado diz estar louco e que quer encontrar um médico, sai pela rua.



CENA 13: HORÁCIO, ARLEQUIM e FLAMÍNIA

Horácio e Arlequim, da rua, dizem querer ir ao almoço na casa de Flamínia e que ela deve estar esperando, batem. Nisto.

Flamínia: de casa, ouve como veio Horácio e Arlequim para almoçar com ela, enxota Arlequim dizendo que Horácio almoçou só com ela; Arlequim entra em casa para entender e volta para fora chorando dizendo que já tiraram a mesa e comido tudo. Horácio grita com a mulher por não ter estado ali: fazem uma gag (do sim e do não) responde falando das coisas doadas e que como prêmio é maltratado por ela. Flamínia diz que ele, depois de ter comido e pegado de volta as coisas, fizesse de tal maneira; falam juntos, Horácio e Arlequim saem com raiva pela rua. Flamínia fica maravilhada com Horácio que age desta maneira negando tudo. Nisto.



CENA 14: COVIELO e FLAMÍNIA

Covielo vem da rua. Flamínia pergunta sobre as coisas que ela lhe deu e porque está assim com raiva dela; Covielo diz não estar com raiva e que irá pegar as coisas e trazer para ela, sai pela rua. Flamínia fica maravilhada. Nisto



CENA 15: HORÁCIO e FLAMÍNIA

Horácio, da rua, diz querer ir pra casa, vê Flamínia, que lhe pergunta se ele trouxe as coisas, fazem confusão de novo; Horácio, com raiva, sai pela rua, Flamínia fica. Nisto



CENA 16: COVIELO, FLAMÍNIA e ARLEQUIM

Covielo da rua, Flamínia grita por causa das coisas, Covielo, com palavras dóceis diz que lhe trará o quanto antes; Flamínia entra em casa, Covielo fica. Nisto

Arlequim: da rua, vê o Covielo, pensa que é Horácio seu patrão, lhe pede o salário que lhe deve; Covielo diz que não o conhece, Arlequim se assusta, diz que negue isso e que pedirá a confirmação de sua própria mulher, bate. Nisto.



CENA 17: ISABELA, COVIELO e ARLEQUIM

Isabela, da sacada da casa, vê o Covielo, acredita que é seu marido Horácio, diz que pague a Arlequim; Covielo burla com ela, depois sugere a Arlequim que durma com Isabela e que desconte o salário; Arlequim contente entra em casa com Isabela, Covielo parte pela rua.



CENA 18: HORÁCIO e CAPITÃO

Horácio da rua, sobre o mal estar de Flamínia e do seu proceder mal. Nisto

Capitão: da rua, vê Horácio, pensa que é o Covielo seu amigo, diz que vá ao albergue, procure Graciano e peça as coisas por que ele foi expulso, e que o esperará no albergue do Sol; Horácio diz que fará de tudo para conseguir, Capitão sai pela rua; Horácio maravilhado diz que vai tentar, bate. Nisto



CENA 19: GRACIANO e HORÁCIO

Graciano, do albergue, vê Horácio, pensa que é o Covielo, leva para fora suas coisas e faz a conta das despesas.  Horácio o paga, Graciano entra no albergue. Horácio, com as coisas, maravilhado, bate. Nisto



CENA 20: ARLEQUIM, HORÁCIO e ISABELA

Arlequim, da janela, se lamenta com Horácio que Isabela sua mulher não quer dormir com ele e que quer seu salário; Horácio grita com ele, Arlequim aposta que ele ordenou que dormisse com Isabela como forma de pagamento, e que ela confirmará tudo. Nisto.

Isabela: de casa diz, na cara de Horácio. Como ele se contentou que Arlequim dormisse com ela como forma de pagamento; Horácio se assusta e diz que não é verdade; Horácio restitui as coisas à esposa. Arlequim se maravilha, fazem a cena de doar as pauladas e todos entram em casa.



CENA 21: PANTALEÃO, MÉDICO e HORÁCIO

Pantaleão da rua, dizem querer medicar Horácio, pois pensam que ele está louco e que não está responsável pelos seus atos. Nisto.

Horácio: de casa, convida Pantaleão a almoçar, pois já está na hora, entra em casa; Pantaleão diz que Horácio está com a cabeça no lugar e libera o médico que sai pela estrada, Pantaleão fica. Nisto



CENA 22: COVIELO, PANTALEÃO e MÉDICO

Covielo da rua, vê Pantaleão, discutem; Pantaleão chama o médico. Nisto

Medico: da rua, Covielo com Raiva sai pela rua; Pantaleão diz ao médico que o frenesi voltou a Horácio, porém precisa encontrá-lo. Nisto



CENA 23: HORÁCIO, MÉDICO e PANTALEÃO

Horácio de casa, de novo, convida Pantaleão a almoçar; o médico lhe toca o pulso e diagnostica bom e são. Horácio maravilhado entra em casa, médico se despede e sai pela rua; Pantaleão fica. Nisto



CENA 24: COVIELO, PANTALEÃO e MÉDICO

Covielo, da rua, volta a discutir com Pantaleão, caluniando-o. Pantaleão chama o médico. Nisto. Médico: da rua, quer tocar o pulso do Covielo achando que é Horácio, Covielo dá paulada em todos e partem pela rua.



CENA 25: COVIELO e GRACIANO

Covielo, da rua, maravilhado dos sucessos, diz querer pegar as suas coisas, bate. Nisto

Graciano: do albergue, entende que o Covielo quer as suas coisas, ele diz já ter dado, discutem; Covielo, com raiva, ameaça ir à justiça, sai pela rua; Graciano fica maravilhado. Nisto



CENA 26: HORÁCIO e GRACIANO

Horácio, da rua, Graciano acredita ser o Covielo e pergunta se ele guardou as coisas; Horácio diz que sim e fazem gag, Horácio parte pela rua; Graciano maravilhado. Nisto  



CENA 27: COVIELO e GRACIANO

Covielo, da rua, diz querer as suas coisas, discutem; Graciano que ele mesmo acabou de confessar que já as pegou; Covielo nega, com raiva parte pela rua; Graciano fica. Nisto



CENA 28: HORÁCIO, GRACIANO e PANTALEÃO

Horácio, da rua, perguntado por Graciano das coisas, ele confessa tê-las tido. Nisto.

Pantaleão, da rua, se esconde pra ver se Horácio está em sã consciência; Graciano pede para ele ser testemunha; Pantaleão se esconde de um lado; Horácio de novo confessa ter recebido as coisas e sai pela rua. Graciano e Pantaleão ficam. Nisto.



CENA 29: COVIELO, GRACIANO e PANTALEÃO

Covielo, da rua, pergunta a Graciano das suas coisas com delicadeza e belas palavras; Graciano, com raiva, chama a testemunha, Pantaleão estando à parte, diz ter ouvido tudo, que ele tinha confessado; Covielo, com raiva, entra no albergue dizendo que quer pegar de qualquer jeito; Graciano e Pantaleão entram atrás dele.



CENA 30: HORÁCIO e PANTALEÃO

Horácio, da rua, maravilhando-se das extravagâncias que lhe aconteceram e das coisas que ele pegou. Nisto. Pantaleão surge do albergue, diz ter trancado Horácio em um quarto e querer ir encontrar o médico; Vê Horácio, se espanta, duvida que não seja um espírito, enfim, o Magnífico fala maravilhado de como ele tenha conseguido sair do albergue; fazem maravilhas um com o outro; se ouve barulho no albergue, Horácio (levanta o guarda chuva e entra no albergue). Nisto



CENA 31: COVIELO, HORÁCIO, GRACIANO, PANTALEÃO

Covielo do albergue, com a espada desembainhada, gritando que quer as suas coisas, (procura e entra no albergue pelo outro lado);  Horácio sai do albergue procurando a confusão e entra pelo outro lado; Sai Covielo com espada em riste criando a confusão dá a volta e entra novamente; Sai Horácio procurando, entra; Sai Covielo criando confusão, entra... até que um duble entre vestido igual e permaneça de costas). Pantaleão (percebe que são dois e) fica maravilhado por não saber conhecer quem seja seu genro Horácio.



CENA 32: ARLEQUIM, CAPITÃO, COVIELO, HORÁCIO, GRACIANO, PANTALEÃO

Arlequim e Capitão: da rua, Arlequim diz não saber conhecer quem seja Horácio seu patrão, Capitão diz não conhecer quem seja o Covielo seu amigo; Graciano não reconhecer a quem ele deu as coisas; Todos fazem gags, estão maravilhados. Nisto



CENA 32: FLAMÍNIA, ISABELA, ARLEQUIM, CAPITÃO, COVIELO, HORÁCIO, GRACIANO, PANTALEÃO

Flamínia: de casa, faz igual, não conhece quem seja Horácio, faz gags, no fim chama Isabela. Nisto. Isabela: de casa, não consegue conhecer quem seja Horácio, seu marido, faz gags com um e com o outro; no fim, se descobre que o Covielo é irmão de Horácio, alegrando-se todos; o Covielo se casa com Flamínia.

Fim da comédia.



Cenas a serem ensaiadas:

·         Insistir e convencer, alguém que diz sim, outro que diz não.

·         Viagem longa com cansaço e fome. Alguém que pode saciar a fome, mas não o faz de imediato.

·         Insinuação.

·         De receber roupas.

·         De doar pauladas.

·         Ciovielo e Horácio correm em volta do albergue.