O MENSAGEIRO
Adaptação de Marcus Villa Góis da tradução de Roberta Barni do original de Flaminio Scala em Il teatro delle favole rappresentative... Ed. Iluminuras, São Paulo, 2003. 1ª Ed.: Pulciani, Veneza, 1611.
Personagens
Pantaleão depois Stefanello, ator 1.
Isabela, filha depois Hortência, ator 5.
Arlequim, criado, ator 3.
Buratino, ator 6.
Francisquinha, ator 2.
Flamínia, filha, ator 2.
Capitão Espavento, ator 7.
Horácio, depois Flamínio, ator 6.
Gracindo companheiro, ator 4.
Taberneiro, ator 3.
Mensageiro, ator 4.
Coisas: Tabuleta de Taberna. Paus para dar Paulada. Um cesto contendo muitas cartas. Dois Floretes. Um violão pra Gracindo.
Argumento
Vivia em Veneza um mercador, denominado Stefanello dos Humildes, que tinha uma filha extremamente bela e dotada de virtuosos hábitos, a qual se chamava Hortência, e por correspondência, ele tratava de casar em Gênova, com um jovem de honrada família, chamado Flamínio.
Deu-se que um fidalgo veneziano enamorou-se da jovem e, querendo raptá-la ao pai, acabou sendo ferido e morto pelo referido Stefanello, com a ajuda de alguns capangas. Stefanello fugiu para Bolonha sob o nome de Pantaleão, mas não considerando ali seguro, acabou, muito tempo depois, se mudando para Roma.
Naquele ínterim o jovem Flamínio, que com aquele casamento também não concordava, fugiu do seu pai e, sob falso nome de Horácio, alcançou Bolonha, e ali, não reconhecendo a ex-futura mulher (que sob o nome de Isabela vivia), por ela inflamou-se altivamente. Seguiu-a então a Roma, e após muitos, atormentados acontecimentos, fez-se conhecer por Flamínio, e, correndo assim maior perigo de perdê-la, conseguiu tê-la por esposa.
Cidade
CENA 1: MENSAGEIRO
Mensageiro, com cesto de cartas, bate à casa de Pantaleão; nisto
CENA 2: PANTALEÃO e MENSAGEIRO
Pantaleão, à janela penteando-se, responde dizendo que vai mandar alguém para as cartas, e retira-se. Mensageiro bate à casa de Balela.
CENA 3: FRANCISQUINHA e MENSAGEIRO
Francisquinha, à janela dizendo: “Estou indo”; nisto
CENA 4: ARLEQUIM, FRANCISQUINHA e MENSAGEIRO
Arlequim pega a carta do patrão, perguntando se há alguma para si; nisto. Francisquinha pega as cartas de Balela, já que seu marido não se encontra. Mensageiro sai. Eles brincam amorosamente um com o outro, depois Francisquinha pergunta-lhe se tem notícias de Buratino. Arlequim: que desde que partiram de Bolonha nunca mais tiveram notícias, e fica com ciúmes de Buratino; nisto
CENA 5: GRACINDO, HORÁCIO, ARLEQUIM e FRANCISQUINHA
Gracindo persuade Horácio a não querer desistir do amor de Isabela e nem sair de Roma. Horácio que é obrigado a ir-se embora, por ter percebido que Isabela ama outra pessoa; e que isto lhe acontece por ter sido desobediente ao seu pai e não ter querido ficar com a pessoa que ele lhe dera em Veneza, e que enfim, está resolvido a voltar para Bolonha. Francisquinha e Arlequim, que ficaram apartados, entram em casa. Eles continuam a conversa começada, Horácio narra que seu pai de Gênova o queria casar com uma certa Hortência de Veneza, mas ele fugiu para Bolonha onde conheceu e se apaixonou pela traidora Isabela que veio para Roma com algum outro amor; nisto
CENA 6: ISABELA, GRACINDO e HORÁCIO
Isabela, à janela, diz que ouviu de Arlequim que Horácio está em Roma, e na rua; nisto
CENA 7: FLAMÍNIA, ISABELA, GRACINDO e HORÁCIO
Flamínia, à janela, diz que ouviu de sua mãe Francisquinha que Gracindo está na rua; as mulheres vêem-se, cumprimentam-se; Horácio, ao ver Isabela, quer ir-se embora; Gracindo o detém. Isabela fala docemente com ele. Horácio chama-a de traidora. Isabela chama por testemunhas de seu amor Gracindo e Flamínia, os quais dão fé da verdade. Horácio, fora de si e completamente apaixonado, vai-se embora calando. Gracindo segue-o. Isabela, entrando, diz: “Maldito seja o dia em que parti da minha terra”. E Flamínia: “Maldito seja o dia em que parti de Bolonha e vi Gracindo”; entra.
CENA 8: BURATINO
Buratino, com capa de viagem e cesto com cartas, chegando de Veneza, procura pela Taberna do Urso, para depois descobrir onde o patrão está morando; nisto
CENA 9: CAPITÃO e BURATINO
Capitão que a janta na taberna do Urso foi péssima; Buratino pergunta onde é a taberna. Capitão responde, se apresentam, Buratino diz ter uma carta dele; lê muitas cartas, e entre elas as de Pantaleão dizendo: “Estas são do meu patrão, Pantaleão”. Capitão percebe aquelas palavras, recebe a sua carta, depois chama o taberneiro.
CENA 10: TABERNEIRO, CAPITÃO e BURATINO
Taberneiro vem fora; Capitão recomenda-lhe Buratino. Taberneiro leva-o para dentro da taberna. Capitão lê a sua carta do jeito dele (em espanhol, elogiando a si próprio), depois entra na taberna.
CENA 11: PANTALEÃO e FRANCISQUINHA
Pantaleão, de casa, com a carta, bate à casa de Balela. Francisquinha sai e diz a Pantaleão que Balela está viajando. Pantaleão pede para deixar um recado: diz que tem boas notícias de Veneza. Francisquinha pergunta por Buratino, que em Bolonha ele tinha mandado para Veneza saber da situação dele com a justiça. Pantaleão responde que Buratino mandou uma carta avisando que está chegando à Roma com boas noticias, mas que a situação em Veneza está preta. Ela diz que compreendeu o recado e entra. Ele volta preocupado para sua casa.
CENA 12: CAPITÃO
Capitão diz que embebedou Buratino, que lhe tirou as cartas de Pantaleão e que tem de colocar no lugar antes que ele acorde; abre-as, e ao lê-las descobre que Pantaleão se chama Stefanello, e sua filha Isabela chama-se Hortência; vê o nome dos inimigos de Pantaleão; e faz sobre isso muitos planos; nisto.
CENA 13: ARLEQUIM e CAPITÃO
Arlequim chega perguntando quem falou de Pantaleão, seu patrão; capitão observa-o, e esclarece-se que tudo o que leu na carta de Pantaleão é verdade; dá dinheiro a Arlequim para que o ajude em seu amor com a sua patroa Hortência. Arlequim: que não adiantará nada, por ela estar apaixonada por um estudante que a seguiu de Bolonha até Roma, mas que procurará ajudá-lo; sai. Capitão ouve pessoas se aproximando e decide se esconder para ouvir, se esconde; nisto
CENA 14: HORÁCIO e GRACINDO
Horácio diz querer partir de Roma. Gracindo pergunta a Horácio o motivo que o leva a duvidar do amor de Isabela. Horácio: desconfia que ela esteja apaixonada pelo Capitão. Gracindo roga-lhe que não parta de Roma, até ele conseguir a verdade sobre este assunto; Horácio promete, e sai. Gracindo faz sinais embaixo da janela.
CENA 15: ISABELA e GRACINDO
Isabela à janela, diz a Gracindo que, por amor a ele, Flamínia está desesperada; nisto
CENA 16: FLAMÍNIA
Flamínia fora; Isabela retira-se um instante. Gracindo pergunta a Flamínia se Isabela ama o Capitão; nisto
CENA 17: ISABELA, GRACINDO, FLAMÍNIA e CAPITÃO
Isabela diz que ouviu tudo pela janela, diz a Gracindo que ele tem pouca confiança nela, acreditando que poderia deixar de amar o seu Horácio, por aquele Capitão fanfarrão. Capitão mostra-se; mulheres retiram-se. Gracindo conta ao Capitão da desconfiança de Horácio. O Capitão diz que não ama nenhuma daquelas mulheres, e que está apaixonado por uma fidalga veneziana, e que sobre isso poderá dar a sua fé a Horácio. Gracindo contente vai-se. Capitão diz que já pensou no que deve fazer; entra na taberna.
CENA 18: GRACINDO e HORÁCIO
Gracindo conta a Horácio tudo o que se passou com Flamínia, com Isabela e com o Capitão. Fazem sinal debaixo das janelas das amadas.
CENA 19: ISABELA, GRACINDO e HORÁCIO
Isabela à janela, faz cena galante com Horácio; Gracindo toca; nisto
CENA 20: FLAMÍNIA, ISABELA, GRACINDO e HORÁCIO
Flamínia à janela, alegra-se pela reconciliação dos dois. Isabela diz a Horácio que tem de lhe revelar um segredo de seu pai e dela própria, em sinal do amor que tem por ele; nisto
CENA 21: CAPITÃO, GRACINDO e HORÁCIO
Capitão, depois de ter cumprimentado todos os presentes, diz que quer ser intermediário de seus amores, para que fiquem contentes; e aquilo pela amizade que tem com os pais deles. Mulheres, alegres, cumprimentam o Capitão e retiram-se, os amantes ficam; o Capitão diz que ele também está apaixonado, como é de conhecimento geral, em Veneza. Capitão revela o seu amor e a sua amada Hortência; Horácio espanta-se e narra a sua história (que na verdade chama-se Flamínio, de Gênova, e seu pai o havia prometido a esta mesma mulher, mas ele não quis e fugiu para Bolonha); Horácio promete-lhe ajuda em seu amor, e lhe dá a sua fé. Nisto vêem os velhos vindo. Capitão manda embora os jovens, e ele fica; nisto
CENA 22: PANTALEÃO, FRANCISQUINHA e CAPITÃO
Pantaleão e Francisquinha chegam. Capitão pede a Francisquinha sua filha Flamínia em casamento, em nome de um cavalheiro genovês. Pantaleão exorta-a a concedê-la, dizendo que irão em comitiva, pois ele também irá casar a sua filha com um cavalheiro genovês. Combinam; Francisquinha sai. Capitão diz a Pantaleão que ele se chama Stefanello e sua filha Hortência, e que tinha sido comissionado por seus inimigos para matá-lo, mas que o amor que ele tem por sua filha o deteve, e a pede em casamento. Pantaleão promete. Capitão sai. Pantaleão fica; nisto
CENA 23: BURATINO
Buratino sai da taberna e vê o patrão lamentando-se, abraça-o. Pantaleão, de tanta alegria, chama Isabela e Arlequim.
CENA 24: ISABELA, ARLEQUIM, BURATINO e PANTALEÃO
Isabela e Arlequim afagam Buratino, que diz ser portador de boas novas. Pantaleão e Buratino entram em casa, Isabela diz que tem um assunto para tratar com Arlequim e que logo entrarão também.
CENA 25: ISABELA e ARLEQUIM
Isabela diz a Arlequim que desconfia que seu pai quer dá-la em casamento ao Capitão, e que Horácio ficou com Flamínia, mas que não acredita em nada daquilo; manda-o procurar Horácio, a fim que ele lhe conte tudo. Arlequim sai; nisto
CENA 26: FLAMÍNIA e ISABELA
Flamínia diz a Isabela que um cavaleiro genovês mandou pedi-la em casamento à sua mãe, e que ela a prometeu; Isabela, magoada, chama-o de traidor, e entra chorando.
CENA 27: GRACINDO e FLAMÍNIA
Gracindo entra para cantar o seu amor, mas é interrompido e fica sabendo por Flamínia que Horácio a pediu em casamento à mãe; nisto
CENA 28: ARLEQUIM, GRACINDO e FLAMÍNIA
Arlequim chega e confirma que Flamínia foi pedida em casamento por um genovês. Flamínia, chorando, entra em casa; Gracindo, desesperado, sai. Arlequim fica; nisto
CENA 29: CAPITÃO, HORÁCIO e ARLEQUIM
Horácio entra para cortejar Isabela, Arlequim o vê e tenta lhe perguntar se o genovês que pediu Flamínia em casamento é ele. O Capitão interrompe a pergunta de Arlequim a todo momento perguntando a Arlequim por Pantaleão, mas Arlequim está tentando falar com Horácio; nisto
CENA 30: PANTALEÃO, CAPITÃO, HORÁCIO e ARLEQUIM
Pantaleão entra, todos se calam. Pantaleão vendo o Capitão diz que tudo (sobre os inimigos) o que ele disse é verdade, pois recebeu umas cartas de Veneza, dizendo a mesma coisa. Capitão diz a Pantaleão que ele pode confiar abertamente em Horácio; depois pergunta a Horácio se ele está pronto a lhe dar aquela ajuda em seu amor, que ele prometeu. Horácio: que está mais do que pronto. Capitão faz com que Pantaleão revele quem ele e sua filha, pela qual o Capitão está apaixonado, na verdade são. Pantaleão se revela Stefanello e diz possuir uma filha chamada Hortência. Capitão pede que Horácio interceda junto ao pai para que ele a conceda em casamento. Horácio roga Pantaleão que conceda-a ao Capitão. Pantaleão concorda. Pantaleão e Capitão vão embora juntos. Horácio fala a Arlequim que finalmente conheceu o pai de Hortência a quem ele estava prometido. Arlequim fala que Hortência e Isabela são a mesma pessoa e que Pantaleão é o pai de Isabela. Horácio aflige-se de sua má sorte com Arlequim, que lhe diz que não é preciso lamuriar-se, já que ele ficou com Flamínia. Horácio: que não é verdade; nisto
CENA 31: ISABELA, HORÁCIO e ARLEQUIM
Isabela chama Horácio de traidor. Ele nega; nisto
CENA 32: FLAMÍNIA, ISABELA, HORÁCIO e ARLEQUIM
Flamínia entra, vê os dois, e confirma que sua mãe a deu a um cavalheiro genovês. Ele se desculpa, dizendo que foi traído pelo Capitão, e que Isabela não tinha de ser dele, desde que lhe fora prometida em Gênova, sob o nome de Hortência, e ele não a merecia, revelando ser Flamínio de’ Franchi, genovês. Isabela, ouvindo aquele nome, desmaia nos braços de Arlequim, e levam-na para casa com Flamínia.
CENA 33: BURATINO e ARLEQUIM
Buratino diz que aquele Capitão brincou com ele pois suas cartas estavam sem o lacre; nisto, Arlequim volta, e Buratino lhe conta que conheceu o Capitão, que ficou bêbado e que no dia seguinte suas cartas estavam sem lacre; imaginando a falcatrua das cartas, que o Capitão fez; nisto
CENA 34: CAPITÃO, BURATINO e ARLEQUIM
Capitão alegre que por ser muito esperto irá se casar; Arlequim manda Buratino ficar apartado, depois, com destreza, pergunta-lhe se ainda está alojado na Taberna do Urso, e se conhece um certo Buratino. Capitão: que não o conhece. Buratino revela-se ao Capitão, que nega conhecê-lo; se pegam com palavras, criados dão-lhe pauladas, ele lança mão da espada; Buratino foge. Nisto
CENA 35: GRACINDO, HORÁCIO, CAPITÃO e ARLEQUIM
Gracindo e Horácio chegam duelando àquela balbúrdia.
CENA 36: PANTALEÃO, FRANCISQUINHA, GRACINDO, HORÁCIO, CAPITÃO e ARLEQUIM
Chegam para se porem no meio; tranqüilizam, depois Horácio chama o Capitão como testemunha de que ele não pediu Flamínia em casamento, de modo algum. Capitão faz os dois se apaziguarem, depois Horácio, põe-se de joelhos diante do Capitão, dizendo que, já que lhe tirou sua mulher (sem a qual não pode viver), que lhe tire a vida também. Capitão concorda, mas que antes quer se casar com Isabela em sua presença; diz a Pantaleão que a chame. Arlequim chama-a.
CENA 37: ISABELA, PANTALEÃO, FRANCISQUINHA, GRACINDO, HORÁCIO, CAPITÃO e ARLEQUIM
Isabela surge; Capitão casa-se com ela dizendo: “eu me caso com Hortência, e como minha mulher entrego-a a ti Flamínio genovês”. Pantaleão espanta-se, mas concede o casamento. Horácio agradece; Gracindo quer casar-se com Flamínia; Francisquinha concede, retira a máscara e casam-se; Capitão mostra uma carta, e diz que ele havia visto o nome dos inimigos e a asneira de Buratino que não observou o pedaço da carta que ele retirou na qual dizia que os inimigos tinham perdoado Stefanello já que o jovem veneziano que tentou seqüestrar Hortência sobreviveu. Felicidade geral.
Final da comédia.
Cenas a serem ensaiadas
· Buratino diz ter uma carta dele; lê muitas cartas, e entre elas as de Pantaleão dizendo: “Estas são do meu patrão, Pantaleão”.
· Capitão lê a sua carta do jeito dele (em espanhol, elogiando a si próprio).
· Capitão vê o nome dos inimigos de Pantaleão; e faz sobre isso muitos planos.
· Gracindo toca na cena galante de Isabela e Horácio.
· Pantaleão e Francisquinha combinam a comitiva do casamento em Gênova.
· Capitão ter sido comissionado por seus inimigos para matar Pantaleão.
· Horácio entra para cortejar Isabela, Arlequim o vê e tenta lhe perguntar se o genovês que pediu Flamínia em casamento é ele. O Capitão interrompe a pergunta de Arlequim a todo momento perguntando a Arlequim por Pantaleão, mas Arlequim está tentando falar com Horácio.
· Arlequim e Buratino dão-lhe pauladas, Capitão lança mão da espada.
· Gracindo e Horácio chegam duelando.
· Capitão casa-se com Hortência
· Gracindo casa-se com Flamínia;
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